Sobre Editais incluindo o FAC do DF

Eu, que sempre me gabei por só participar de verbas públicas distribuídas
por meio de Editais, hoje chego com muita indignação a essas conclusões.
Temos urgentemente de propor outras formas.

Sobre o que pensam as Antas e a Floresta a respeito dos Editais Culturais:

Hoje no Brasil, a forma de financiamento mais acessível para as atividades dos grupos são os editais que da forma como estão disponíveis não atendem às necessidades dos Grupos, são iniciativas pontuais que não garantem a continuidade dos trabalhos. Na melhor das hipóteses devem ser vistos como paliativos que atendem as necessidades do sistema de se afirmar como agente produtor. Não atendem a demanda do trabalho continuado dos grupos. Eles não são, nem sequer, democráticos, e sim excludentes como podemos ver na afirmação de Picon-Vallin* (2008), “A maioria das companhias jovens se empenham, inicialmente, em apresentar projetos para obter subvenções para seus primeiros espetáculos. Para tanto, buscam agradar, em vez de aprofundar convicções e métodos, caso os tenham, por meio de um trabalho continuado e sério”. Infelizmente essa realidade não atinge apenas aos grupos iniciantes.

Concorrer em um edital exige que se saiba escrever projetos de forma a atender a demanda de quem o criou, isso nos leva a pensar: “como devo elaborar para que o projeto seja aceito?” Esse já é o primeiro filtro da seleção, uma imposição para que cada proponente reveja seus princípios e os adequem ao discurso dos que elaboraram os editais. Ainda, a burocracia é outra ferramenta muito eficiente para excluir grande parte dos concorrentes.

Quando entramos em um edital, nos tornamos concorrentes em uma disputa, que vence quem melhor sabe argumentar, quem melhor sabe agradar aqueles que vão julgar o projeto. Ficamos felizes quando recebemos o resultado, nos achamos competentes por termos sidos selecionados, nos aliviamos ao pensar nas despesas que estão garantidas para os próximos meses. Esquecemos de quantos outros, quantos muitos ficaram de fora, quantos tantos ficarão sem condições de realizar seus projetos, e quantos tantos que passarão os próximos meses dedicando suas horas para aprender sobre marketing, sobre redação eficiente, sobre leis e regulamentos, deixando mais uma vez o fazer artístico relegado ao segundo ou terceiro plano. Os editais foram feitos para desviar a maioria dos grupos dos seus fazeres artísticos e não para que se faça verdadeiramente.

José Regino – Brasília 14 de setembro de 2011.

* Beátrice Picon-Vallin é diretora de pesquisa no Center National de la Recherche Scientifique – CNRS (Centro Nacional da Pesquisa Científica), professora de História do Teatro no Conservatório Nacional Superior de Arte Dramática de Paris, diretora das coleções Arts du Spectacle (CNRS), thXX (L’Âge d’Homme, Lausanne) e Mettre en Scène (Actes Sud-Papiers). Especialista em teatro do século XX

-Este texto é parte do artigo O TEATRO POSSÍVEL – REFLEXÕES SOBRE O TEMA À
LUZ DAS PRÁTICAS DO TEATRO EXPERIMENTAL DE ALTA FLORESTA E CELEIRO DAS ANTAS, apresentado como conclusão do projeto “Florestas e Antas em Busca de um Teatro Possível”, desenvolvido pelos grupos Teatro Experimental de Alta Floresta (MT) e Celeiro das Antas (DF), contemplado no edital Rumos Teatro 2010 um programa do Iaú Cultural..

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